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Recriação da União do Vegetal

22 de jul. de 2025

M. Gabriel
M. Gabriel

Viva hoje o aniversário da União do Vegetal

Queridos amigos e amados irmãos, nesse dia 22 de julho está inteirando mais um ano da recriação da União do Vegetal. É com grande satisfação que transmito estas palavras para vocês.

É um dia muito especial e quero mostrar como eu vi e vejo a União do Vegetal no decorrer desses anos. Muitas dores, tropeços, sofrimentos, alegrias, felicidades, lembranças e recordações. Tudo isso se une no tempo e se transforma em missão. Missão é um pouquinho de cada coisa, de tudo isso que fica gravado em nossos corações. Por isso, jamais podemos fugir e nem desistir dos nossos objetivos.

A União do Vegetal foi criada por Salomão praticamente há 3 mil anos atrás e até hoje ainda está viva nos corações de seus discípulos. É Salomão e Caiano trazendo até nós o caminho da salvação e da purificação de nossa alma. Aqui começou a história.

No dia 22 de julho de 1961, em um preparo de vegetal, o Mestre Gabriel declarou a recriação da União do Vegetal. Nessa época, ele era um seringueiro e morava na floresta amazônica, fronteira do Brasil com a Bolívia.

Mestre Gabriel bebendo o Vegetal

A minha chegada na União do Vegetal

A União do Vegetal foi criada em 1961, e vivo dentro dela desde 1966, cinco anos após a sua criação.

Mestre Vicente Marques

Cheguei e bebi o vegetal em Manaus pela primeira vez em 1966, dado pelo mestre Florêncio, meu tio. Ele era irmão da minha querida mãe, conselheira Mariquinha, conhecida por muitas pessoas na União do Vegetal. Ela já fez a passagem, cumpriu sua missão. Meu pai também era um mestre feito pela União do Vegetal, o mestre Vicente Marques. Foi um dos pioneiros na criação do Núcleo Caupuri de Manaus. Ele também já fez a passagem. Que Deus o tenha em um bom lugar.

O mestre Florêncio deu vegetal pela primeira vez em Manaus, em 1966, depois retornou a Porto Velho, Rondônia, e em seguida, em 1967, ele volta para morar em Manaus para iniciar o primeiro núcleo da União do Vegetal: o Núcleo de Manaus, hoje Núcleo Caupuri.

Primeira sede da União do Vegetal em Manuas

Foi um tempo muito bom, especial na minha vida. Minha chegada à União do Vegetal, ainda bem jovem, com 20 anos de idade. O primeiro mestre representante de núcleo do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal foi o mestre Florêncio, de 1967 até 1973. E o segundo fui eu, de 1973 a julho de 1976. Isso para mim é muito gratificante. Me sinto feliz por fazer parte dessa história e auxiliar o Mestre Gabriel no cumprimento de sua missão.

Mestre Florêncio de pé, Mestre Nonato e Mestre Roberto Souto sentados.

Saudade do Mestre Gabriel

Mestre Gabriel.

Hoje eu acordei e senti a falta e saudade desse amigo. Do amigo que pude contar em muitos momentos ruins e bons de minha vida. Homem forte, guerreiro e lutador. Que só deixou rastros positivos pelos lugares por onde caminhou. Esse sim eu posso chamar de meu amigo, porque nunca falhou. Sempre esteve perto de mim, me dando bons exemplos, nunca me deixou na mão, nem nos momentos mais difíceis.

Eu sempre falo: o Mestre Gabriel precisava de nós para levar a União do Vegetal ao mundo. É como nós que também precisamos de vocês. Na época, tudo era bem diferente de hoje. Só quem viveu é quem sabe das dificuldades que enfrentamos para levar em frente a bandeira da Luz, da Paz e do Amor.

Mestre Nonato jovem, em campo, jogando futebol profissionalmente.

Em 1968, fui morar em Porto Velho. Eu era jogador de futebol profissional e fui convidado para jogar e treinar um time em Porto Velho, o Ipiranga Futebol Clube. Então aproveitei e fui conhecer o Mestre Gabriel. Meu encontro com ele foi muito bom, marcante e especial. O mesmo morava em uma casinha de palha e de madeira, o chão de cimento bem ralo. Ele dividiu a casa ao meio: a metade ficou a sede da União do Vegetal, assim era chamada na época, e a outra metade ficou sendo a sua casa onde vivia com sua família.

Foi ali onde eu assisti as melhores sessões da minha vida. Naquela pequena casa de madeira e de palha, não tinha energia elétrica e nem água encanada. Tudo era bem simples, mas ali estava o Mestre: ensinando, doutrinando, acertando o que tinha de ser acertado. Aquela casa era para mim um castelo de luz e de conhecimento, com a presença de Mestre Gabriel. Bebíamos vegetal quase todos os dias. Era um eterno aprendizado. O Mestre ensinando, e nós ali no lugar de aprender.

Alguns mestres feitos por Mestre Gabriel.

Hoje as pessoas se preocupam muito com burocracia, tecnologias e em fazer templos bonitos. E eu pergunto: aonde está o mestre para ensinar com convicção e certeza o que está falando? A União do Vegetal é o castelo da simplicidade e da humildade.

A vida do Mestre Gabriel

A vida de mestre Gabriel todo tempo era ensinando e trabalhando pelo engrandecimento da União do Vegetal, sempre presente para quando cada um de nós precisasse aprender ou mesmo de uma orientação.

Muitas e muitas vezes ele brincava com a gente. Uma vez eu disse para mestre Gabriel:

— Mestre, meia careca tem 50 cabelos e uma careca inteira quanto tem?

Ele me respondeu:

— Cem.

Eu disse:

— Mestre, uma careca inteira não tem nenhum.

Ele respondeu:

— Pois é, sem nenhum mesmo.

Então, pegar o mestre em um vacilo ficou para outra vez.

Eu tive a oportunidade de conhecer o mestre Gabriel como mestre, dentro da força do vegetal, dirigindo a sessão, e também como homem, na sua intimidade, na sua casa e no seu trabalho. Em todo o tempo que convivi com o Mestre Gabriel, nunca deixei de ir um dia em sua casa. A presença de Mestre Gabriel me fazia bem, alegre e feliz.

Em uma outra vez, estive na casa do mestre Gabriel com Roberto Souto. Eu fui de moto, deixei Roberto lá e fiquei de pegar depois. Quando voltei, entrei na casa, e Mestre Gabriel estava deitado no chão, descalço e sem camisa, com o Roberto querendo levantar ele. Ele me disse:

— Nonato, Roberto está querendo me levantar e eu disse que homem nenhum me levanta do chão. Ajuda ele a me levantar.

Então eu e Roberto fizemos de tudo e não conseguimos levantar. Ele disse:

— Roberto, você quer me levantar?

Roberto disse:

— Quero.

Ele ficou em uma posição reta no chão e disse:

— Roberto, pega em minha cabeça e levante.

Roberto pegou com a mão e levantou.

Então o Mestre Gabriel falou, bem calmo:

— Roberto, não é força não. É jeito.

Mais um dos grandes ensinos do mestre. Sempre ensinando e nós aprendendo.

Mestre Gabriel debaixo do arco, dirigindo a sessão para seus discípulos.

Na minha caminhada com o mestre Gabriel, eu não tinha nada para ensinar para ele. Somente aprender, que é o melhor lugar para uma pessoa se plantar dentro da União do Vegetal. Os que pensam que já sabem das coisas, são os mais difíceis de aprender. Eles pensam que sabem. Por isso, eu quero sempre me colocar no lugar de aprender, porque vou sempre ter o que ensinar para alguém. A vida é uma grande escola e um eterno aprendizado.

Não lamente o que você não tem. Valorize o que você já pôde conquistar até hoje. Tudo na vida tem um preço. E todo o recomeçar traz uma energia positiva. Às vezes, coisas boas vêm e se a gente estiver distraído, elas passam despercebidas. Procure mudar sua vida para que lá na frente você não vá sofrer pelo que não mudou. Cultivar amizade verdadeira, isso é muito bom para lhe deixar em paz, e mais fortalecido para viver sua vida.

Encontro com um velho amigo

Quando cheguei em Porto Velho, encontrei um mestre e um amigo. Me liguei a ele e me associei também à União do Vegetal. Fui o sócio 39. Cheguei praticamente no início de todo esse trabalho da União do Vegetal. 

Encontrei um velho amigo. Já seguimos juntos em outras vidas. É por isso que eu digo assim:

“Quando cheguei aqui nesse lugar, já encontrei um velho amigo a me esperar.”

Mestre Gabriel preparando o Vegetal na olaria.

Esse velho amigo é o Mestre Gabriel. Esse amigo que me deu a mão para me levantar e seguir minha caminhada ao seu lado, lhe auxiliando na missão de dominar o mundo pela paz. Sei que não é fácil. Tem muitas e muitas provações pela frente no cumprimento da missão. Os corajosos tiveram coragem para enfrentar e seguir em frente em busca de seus ideais.

Ele era um homem justo, não tinha proteção. Para ele, todos eram iguais. Não tinha nenhuma distinção, nem preconceito. Recriou a União do Vegetal para acabar com a política, dentro da União do Vegetal, com o preconceito, com a desunião, com a vaidade, com os melindres e as fantasias. Veio trazer a paz entre os homens e também uma nova visão de mundo.

Um pouco de minha história

Vi muitas coisas ruins e boas que aconteceram durante todo esse tempo que vivo na União do Vegetal. Mas hoje eu entendo que são coisas da vida. É a mão humana, que onde ela pega, muda. Por isso que ela é indesejável. O mestre Gabriel dizia que é mais fácil amansar touro brabo do que lidar com gente. Isso é uma grande verdade. Uma das coisas mais difíceis é trabalhar com a compreensão do ser humano.

M. Nonato, Mestre Geral do Centro Espírita Jacinto Luz Taboa

Nesses 59 anos que tenho na União do Vegetal, tenho 54 anos no quadro de mestre. Já ocupei dentro do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal todos os cargos que uma pessoa possa chegar. De discípulo ao mais alto grau, que é o de Mestre Geral Representante. Pertencia a todos os conselhos: Conselho da Recordação, dos Ensinos de Mestre Gabriel, Conselho da Representação Geral e o Conselho da Administração Geral.

Sem sair do cargo, fui representante por mais de 18 anos e também mestre central da 4ª Região por 5 anos. Sou um sócio fundador do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Nesse destacamento de mestre Gabriel, ele fez 22 mestres e eu sou um desses mestres feito por ele.

Quando Mestre Gabriel fez a passagem, deixou a União do Vegetal entregue em nossas mãos. E fomos nós que levamos e continuamos levando toda essa história ao mundo. E ainda hoje estamos aqui trabalhando pelo engrandecimento da União do Vegetal, pela sua doutrina, pelos seus ensinamentos e pela paz entre os homens.

Em 1976, vim para Salvador, onde criei o núcleo Apuí e iniciei toda a história da União do Vegetal no Nordeste do Brasil. Me encontrei com a família de Mestre Gabriel, dei vegetal para a mãe dele e mais oito irmãos. Nem todo mundo teve essa oportunidade e nem esse privilégio de viver essa história. Eu fui o único mestre feito por mestre Gabriel que conviveu com a maioria dos seus irmãos: João, Pedro, Dionísio, Romão, Maria, Sinhá e Antônio; e também com sua mãe, Dona Prima. Dei vegetal por diversas vezes para essas pessoas e dei também uma vez para o Alfredo, irmão de Mestre Gabriel. Fico muito feliz em fazer parte dessa história e ter também realizado um grande desejo de Mestre Gabriel, que era dar vegetal para sua família.

Dona Prima, mãe de Mestre Gabriel.

Aqui em Salvador e no Nordeste, fui eu que ensinei e dei às pessoas os primeiros ensinamentos básicos da União do Vegetal: o que é mariri, o que é Chacrona, as primeiras chamadas, como dirigir uma sessão, preparar Vegetal, quem é mestre Gabriel, o ritual das sessões, como chegar ao corpo instrutivo, como chegar no corpo do conselho e, por final, ao quadro de mestre.

Muitas vezes, deu vontade de desistir. Sozinho, na época, cheguei aqui na Bahia, somente com 10 litros de vegetal, o estatuto da União do Vegetal, e mais a coragem de um homem que ainda acredita no amor e nas transformações das pessoas. Sofri muito, mas valeu a pena, porque hoje eu vejo o jardim plantado com muitas flores e as pessoas com suas vidas modificadas e com o coração cheio de alegria e felicidade, por fazer parte também dessa história.

O cumprimento do dever

Da esquerda para direita: M. Pedro, Guilherme, um discípulo da instrutiva, M. Joanico e M. Nonato, na Sede Geral em Porto Velho.

Nada tem valor na vida se não tivermos em nossos corações a força do perdão e do amor. Sempre procurei ser um amigo. Amigo é amizade verdadeira, é estar junto do irmão quando ele precisa de uma mão amiga para se levantar. É nunca estar longe de uma necessidade. Amigo é o homem plantado nesse lugar.

Hoje, estou fazendo uma reflexão dos anos que frequento a União do Vegetal, de tudo que vivi, das dores que foram muitas, do sofrimento e também das alegrias. Por isso quero estar sempre disponível para o cumprimento do meu dever e de minha missão.

O que eu sinto muito é que a maioria das pessoas às vezes não me conhecem e nem me entendem, principalmente aqueles que estão bem pertinho de mim.

Hoje, não me encontro mais na sociedade Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. Mas é um lugar bom, onde tenho muitos companheiros de caminhada e pessoas queridas. Continuo na União do Vegetal, que está gravada no meu coração e no meu sangue. Frequento hoje uma sociedade criada por mim de nome Centro Espírita Jacinto Luz Taboa. Nela eu procuro manter todo o respeito e toda a consideração por tudo aquilo que aprendi com o Mestre Gabriel, sem fugir nada de sua originalidade. Isso é o meu dever, meu compromisso e a minha missão.

Quero expressar aqui o meu respeito e minha consideração a todos os mestres feitos por Mestre Gabriel, que estiveram do seu lado e auxiliando no cumprimento dessa jornada e no engrandecimento dessa divina obra, que é a União do Vegetal. Muitos já se foram, outros continuam. Tem muitos deles que muita gente nem conheceu, mas tiveram seu trabalho e eu continuo aqui para reconhecer.

Muitos tiveram muita importância na minha vida. O mestre Florêncio, por me dar o primeiro copo de vegetal. Mestre Braga, pela sua bravura, sua honestidade e amizade. Esteve do meu lado em muitos momentos ruins e bons. Lhe tenho guardado dentro do meu coração, com todo carinho, porque você foi um homem muito especial para mim e para a União do Vegetal. Mestre Roberto Souto, um grande e eterno amigo, fica aqui a minha consideração a todos esses homens do coração de luz. E aos mestres mais novos, muito grato por nos acompanhar e seguir em frente, confiando em nosso trabalho.

Mestre Nonato, Mestre Braga e sua companheira, Conselheira Dionéia.

Não tenho palavras para decifrar comigo, nem dizer o valor que ele tem na minha vida. Amigos verdadeiros são aqueles que, mesmo distante, os corações estão sempre por perto para abraçar e dizer: estou aqui para quando precisar. Só o amigo sabe como você realmente é, porque está ligado ao seu coração.

Quero viver nessa vida a minha melhor história, a minha melhor compreensão e doar o meu abraço e amizade a quem tanto precisa de mim. Uma coisa que aprendi foi ter responsabilidade e fazer o melhor que eu puder para ver todos felizes. Você só pode conhecer o valor da vitória pelo sofrimento ou pelo tamanho de sua luta. Sendo assim, nós precisamos ter humildade e simplicidade, que é a base fundamental da nossa vida e de todas nossas virtudes. Por isso, temos que ter sempre em nossos corações amizade e carinho e saber que todas as pessoas foram criadas para serem felizes e serem amadas, sem mágoas, sem dor e com amor.

Um grande beijo no coração de todos os irmãos e amigos da União do Vegetal.

Viva a União do Vegetal!

Luz, Paz e Amor

Mestre Nonato